quinta-feira, 26 de abril de 2007

Ver pra lá do óbvio

P: Cm tás R?

R: Vamos andando, a preparar tudo pra viajarmos daqui a poucos dias...

P: A situação continua complicada, o teu marido já recebeu o q lhe devem na empresa?

R: N, ainda n...

P: Então cm tens feito?

R: O que tinhamos deu pra despesas da casa mas mais nada. A minha mãe tem dado uma ajuda na comida...este mês se n fosse ela n sei...até papas pá menina me trouxe, e as bolachas especiais do míudo, sem açucar...E hj tive dir aviar as receitas à farmácia e deixei lá 65 euros...se n fosse a minha mamã... E tu? Cm têm passado? - perguntou R insuspeita sobre a real situação de P, do marido e da filha de 2 anos, emigrantes da america latina, mas notando-a hoje mais calada do que costume...isso despertou-lhe a atenção

P: Vamos andando...o meu marido ganha 700 a 800 euros e as despesas da casa são de 600 euros...o q ganho dá pá ama da menina...

R: N me digas...pq n me disseste q tavas nessa situação?

P: Pq sabia q tu tavas na mm...afinal vais ser obrigada a mudar de país...e eu sei o q custa ser emigrante... - disse P no seu espanholês...

R: O q tens em casa pa comer? - perguntou R sem cerimónias pq ela tb sabe o q é ter o frigorífico vazio...

P: Leite e água...ah! e a minha patroa q tem uma quinta deu-me hj ovos e alface...

Os olhos de R encheram-se de lágrimas...a menina de 2 anos tem problemas de rins e uma alimentação em condições é fundamental...afinal tb tem um filho doente crónico e só uma mãe dum filho doente entende outra...

R: E a tua filha tem comido bem? - perguntou

P: Ela tem...

R percebeu o q ficou por dizer preso na boca daquela mãe...e disse-o com o olhar...

P respondeu apressada: Mas eu nem tenho fome...com isto td nem consigo comer, e assim o que eu n como ao almoço, dá pró jantarinho dela... - confidenciou P com um ar cúmplice de quem conta a uma amiga um truke para poupar...

R aflita e a sentir na pele aquela dor q já nem doi, abriu a carteira e deu a P a nota de 20 euros q lá tinha

R: Aceita...foi a minha mãe q me deu...esta tarde levou-me tb carne e peixe e papa e bolachas..., n sejas parva, aceita!

P passou do sorriso forçado do "truke" para um chouro convulsivo...R abraçou-a e disse-lhe q n era vergonha nenhuma...vergonha é ter amigos q n ajudam...


Esta história real serve para mostrar que qdo perguntamos a alguém "Então, tudo bem?" devemos de facto esperar pra ouvir a resposta...e estar atentos pra reparar no que n é dito...apanhar as subtilezas da voz, os baixar de olhos, os sorrisos amarelos... E serve tb pra mostrar que mm qdo temos tão pouco há sempre alguém por perto que tem ainda menos...e ainda, que o facto de termos pouco n nos isenta da responsabilidade de ajudar quem precisa...mm que seja só com um sorriso, um ouvido atento ou um ombro amigo. Acima de tudo mostra que há sempre Alguém atento às nossas necessidades e que n permite que nos falte o essencial...e que de uma forma ou de outra mexe com as nossas vidas pa nos fazer cruzar com as vidas de outras pessoas q precisem...Cm diz o outro, "n há coincidências"...
Se por acaso foi usada por Alguém maior, R agradece a honra...


Há momentos que vale a pena marcar na vida. Este foi um que n quero esquecer!